sábado, 26 de julho de 2008

Oração de um crente desesperado

Oração de um crente desesperado
João A. de Souza filho
26/07/2008

Senhor, estou saindo para o culto da igreja. Perdoa-me, Senhor, mas vou de coração partido. Queria tanto cultuar o teu nome, exaltar o teu poder, prostrar-me diante de ti em adoração, como faço aqui em casa, sozinho. Aqui eu me prostro, e fico tanto tempo, às vezes em silêncio, outras em júbilo; às vezes em súplica confessando-te meus pecados; outras vezes uma euforia toma conta de meu espírito ao sentir tua presença. Quanto regozijo quando te adoro!
Mas, agora, Senhor, vou para o culto da igreja. É quase certo que serei conduzido e manipulado espiritualmente por um dirigente de louvor; daqueles, Senhor que fala o tempo todo, que grita, gesticula, pula e não me deixa sequer ter momentos de intimidade contigo. Perdoa-me, Senhor. Às vezes o dirigente do culto está tão empolgado que nem percebe que nos impulsiona como ioiôs, pra cima e pra baixo; ora tenta nos conduzir a adoração e abruptamente nos leva para o júbilo; especialmente quando eu quero chorar!
Já não consigo entoar essas novas músicas tiradas de cds – músicas de cantores solos – empurradas goela abaixo da congregação para que cantem todos; e são músicas solos que não se consegue cantar. Que melodias estranhas, Senhor! E, pior Deus, aquela bateria mal-tocada de novo! Só em me lembrar dos splashes fora te tempo que meu ouvido tem de agüentar, e baque surdo dos tambores entrando pelos meus ouvidos, como gonzos de porta que rangem, deixando-me surdo, Senhor, já não suporto. O trinado contínuo da guitarra solo que fere meus tímpanos, os gritos... E os mesmos acordes do tecladista que não sabe tocar a melodia de um cântico... E hoje terei que suportar tudo isto de novo! Perdoa-me, Senhor, mas vou pro culto contrariado!
E estou tão cansado! Trabalhei horas em pé, e só em pensar que sou forçado a ficar mais uma hora em pé, começo a exsudar, a suar, perco a alegria, o gáudio. Eu que gostaria de me sentir revigorado, descansado e refeito, tenho quase certeza de que voltarei pra casa triste. E os mantras, Senhor. Eles retinem em meus ouvidos, penetram-me a mente e eu fico pensando que é o teu poder! Qual nada! É o efeito da música, apenas! Terei que entoar os mantras repetitivos dos cânticos que parecem intermináveis sob a batida insuportável dos músicos em seus instrumentos. Senhor! Não me deixe ser influenciado pelos mantras; nem que minha tentativa de adoração seja impelida pela influência da música; não deixe minha mente vibrar de júbilo quando sei que é efeito da música e não do Espírito.
E, depois de tudo, Senhor, terei que suportar aquela meia hora de apelo financeiro... Não agüento mais! E a pregação tópica, cheia de frases preparadas e sugestivas, tiradas dos sermonários da Internet que apelam para minhas emoções; enchem-me de altruísmo, mas não o teu; É aquele altruísmo pregado pelos positivistas, das frases prontas, das receitas de dez pontos de sucesso que dizem como devo ser. Eu prefiro ouvir o que a tua palavra diz como devo ser. Mas, esses pregadores, Senhor, têm a fórmula pronta do sucesso da vida cristã e dizem tudo o que eu preciso ser. Como gostaria, Senhor de ouvir a velha pregação expositiva, mas os pregadores deixaram de expor a Bíblia e pregam o que seus ouvintes querem ouvir... Um evangelho comercial de facilidades, de trocas; verdadeiras coceiras nos ouvidos, é tudo de que gostam! Puxa vida! E terei que agüentar tudo de novo!
Senhor! Olha pro teu servo. Tem misericórdia! Esses dias decidi ir noutra igreja, e cantaram durante uma hora – sim, os cantores, um após o outro cantavam “louvores” ao som de play-backs. Aquilo foi insuportável! Já fui até em igreja tradicional, Senhor, mas, na igreja que fui eles também – apesar de tradicionais – acham que é moderno cultuar assim; deixaram os hinos de lado. Senhor, acho que parei no tempo. É isso, Senhor. Parei no tempo. Desisto!
Não estou com saudades dos hinos dos hinários nem dos cânticos antigos, Senhor. Tem cânticos novos melhores que os antigos e tem cânticos antigos melhores que os novos. Tenho, isto sim, saudades das tuas manifestações nas reuniões da igreja, sem a interferência de homens, sejam sob o som de hinos antigos ou dos cânticos novos!
Convenhamos, Senhor. Tenho saudades daqueles cânticos em que a poesia vertia beleza, em que o poeta brincava com as rimas, e encaixava cada sílaba com métrica perfeita, mas hoje, Senhor, confesso: não agüento cantar essas músicas traduzidas sem sentido, com frases mal-feitas que nem se encaixam na métrica; esses cânticos feitos para vender.
Ah! E essas lamúrias desenfreadas que ouço e me deixam deprimido, prostrado, e percebo que não é o Espírito que me leva a prostração; é prostração de alma mesmo, tão depressiva fica a alma depois de entoar tais cânticos! E, no último domingo, Senhor, quantas lamúrias entoaram... Fiquei deprimido com aquelas músicas! Acho que nem Davi suportaria tanta lamúria; porque ele, Senhor sempre terminava seus cânticos com uma nota de júbilo e de vitória.
Tenho saudades dos cultos em que o Espírito Santo agia diretamente, em que os dirigentes de louvores apenas levavam o povo a cantar, e não falavam tanto; em que os cultos não eram feitos de “agora faz isto”; “agora faz aquilo”. Em que o povo acompanha o pregador de Bíblia aberta, examinando o que ele dizia. Os cultos tinham fluidez e graça! As pessoas vinham para o “altar” e se prostravam tocadas por ti; hoje são tocadas pela música, por palavras; levantavam as mãos espontaneamente; adoravam motivadas pela intimidade contigo, e não pela motivação do dirigente! Quando terminava os cultos, Senhor, a gente se entristecia. Anelávamos ficar nos cultos; agora, anelamos pelo término do culto como a corça anseia pelas águas!
Parece que Fantástico se tornou mais atraente; que o Milton Neves encanta melhor seu auditório com a rodada dos gols. Os irmãos, Senhor, querem voltar correndo pra casa! Tão desesperados estão. Os mais fiéis e endinheirados vão para a Pizzaria onde a comunhão que não tiveram no culto é bem melhor que na igreja!
Está bem, Senhor. Vou para o culto de novo, mas levo comigo meus tampões de ouvido, e, por favor, ajude-me a me “desligar” de tudo e ficar ligado só em ti!
Amém!

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